Dizem que o Anil herdou esse nome pois suas águas um dia foram tão limpidas que refletiam o azul do céu, outros dizem que foi em virtude de uma planta muito comum em suas margens a indigosfera tintórica que, suas folhas ao cair no leito do rio dissolvia-se e dava-lhe o tom azul. Contudo uma coisa é certa com o crescimento ds cidade de São Luís o Anil nunca mais foi o mesmo e do azul, nem a sombra...
A degradação ambiental
Nas últimas décadas, principalmente no final do século passado, o desenvolvimento econômico e social vem sendo executado em bases profundamente degradadoras. A necessidade de fazer frente às demandas industriais e agrícolas, incremento populacional, urbanização entre outros, produziram uma série de impactos ambientais cujos efeitos são compartilhados por todos. Não é de hoje que o homem costuma lançar seus detritos nos cursos de água. Até a Revolução Industrial, esse procedimento não gerava tantos problemas, visto que os rios, lagos e oceanos possuíam um considerável poder de regeneração. Todavia, com o processo de industrialização, a situação começou a sofrer profundas alterações. O volume de detritos despejados nas águas tornou-se cada vez maior, superando em muito a capacidade de purificação dos rios e oceanos, que é limitada. Aliado a isto, passou a ser despejada na água uma grande quantidade de rejeitos que não são biodegradáveis, ou seja, não são decompostos pela natureza. Tais elementos vão se acumulando e por sua vez diminuem a capacidade de retenção de oxigênio das águas e, conseqüentemente, prejudicando a vida aquática.
Lixo depositado junto a margem do rio Anil - Curso médio - Ponte da Vila Palmeira
Tubulação de esgoto - Bairro Vera Cruz
Vegetação
A vegetação original já foi bastante devastada em decorrência da intensa urbanização ocorrida na área da bacia, o que resulta em graves mudanças impostas à floresta primitiva. Essa floresta era composta principalmente por mangues que formavam colônias de vegetação frondosa com um desenvolvido porte arbóreo. Em virtude do baixo curso ser caracterizado como ambiente estuarino, explica-se então o domínio desse tipo de vegetação, visto que o mangue tem sua sobrevivência ligada a influência das marés de salinidade. Na área ocorrem as seguintes espécies de mangue: Rhizophora mangle, Linnaeus (mangue vermelho), Lagunculária racemosa¸Gaeth (mangue branco) e Avicennia sp. Também ocorre a presença de outras espécies como de Igapó: aninga, juçara, buriti etc, já no terreno de transição entre a planície flúvio-marinha e o tabuleiro eram encontrados indivíduos como: ingá, guarandi e angelim. Em áreas mais elevadas encontra-se: bacurí, tucum, babaçú, bacaba, ariri e marçaranduba. Indivíduos remanescentes da floresta de terra firme podem ainda serem encontrados em algumas nascentes.
Nascente Rio Anil - Jardim são Cristovão II
E por está localizada próximo ao centro da cidade, o processo de urbanização da bacia do rio anil alcança um recobrimento da ordem de 65,2 % de toda a superfície dos solos disponíveis. Esse processo de urbanização acarretou impactos os quais podemos citar:
* Desmatamento – a retirada da cobertura vegetal (principalmente da margem esquerda do rio) diminuiu a biodiversidade das plantas e animais causando impactos diretos sobre a biota bem como à própria população da bacia. Além disso o descobrimento do solo causou o aumento da erosão, remoção da camada útil do solo e redução da inflitração fazendo surgir pontos de inundação;
* Impermeabilização do solo – a capacidade de percolação da água diminuiu, o que incrementou o escoamento superficial “rearranjando” o armazenamento e a trajetória da água, interferindo no ciclo hidrológico e na morfologia do canal. Tanto o desmatamento quanto a impermeabilização contribuem para alterações climáticas e/ou hidrológicas na área;
* Lançamentos de efluentes – de acordo com dados fornecidos pela Companhia da Águas e Esgoto do Maranhão (CAEMA), a vazão dos efluentes sanitários depositados no curso do Anil (incluindo seus principais tributários) era da ordem de 40.840,22 m³/dia, acrescida de uma taxa de 10% estimada para habitações não saneadas (início da década de 80), principalmente as construídas sobre palafitas na periferia dos manguesais.
Cabe ressaltar que, durante cerca de vinte anos (1970-1994), a região do Jaracati (70 ha) situada na margem direita do rio Anil foi utilizada para a disposição final de todo lixo urbano da cidade. Operava sob condições sanitárias e ambientais incompatíveis a sua localização, representando um dos principais focos de vetores patológicos à saúde pública. Nas proximidades dessa área situa-se o sítio Santa Eulália onde foi desenvolvido (e abandonado) um projeto para a implantação de zona residencial, que resultou em um intenso processo de devastação da cobertura vegetal, permanecendo assim até hoje.
Rio Jagurema
CONSIDERAÇÕES:
* As alterações ambientais ocasionadas pela ação humana dentro da bacia resultaram na quebra do equilíbrio natural do ecossistema, gerando novos equilíbrios que são reflexos da forma de ocupação;
* A urbanização constitui uma das formas mais intensas de alteração do ambiente natural. Em um processo desordenado de expansão de uma cidade, surgem vários problemas ambientais, entre eles a poluição dos cursos d’água;
* O rio Anil apresenta atualmente uma baixa qualidade da água, em decorrência do seu uso para a deposição e afastamento de efluentes domésticos e industriais, inviabilizando os demais tipos de uso ou atividades tais como: natação, abastecimento doméstico, pesca e atividades de turismo e lazer que poderiam ser desenvolvidas ao seu entorno.
* A delimitação e/ou devastação da cobertura vegetal na área, a exemplo da mata ciliar, dos mangues e mata secundária mista, deu-se devido ao processo de ocupação desordenada dentro da bacia, o que ocasionou maior suscetibilidade a erosão e/ou assoreamento, desmatamentos das margens e a poluição dos mananciais superficiais.
* O aterramento mecânico sem controle dentro da bacia propiciou o assoreamento dos cursos d’água (fato este bem visível tanto no canal principal como em seus afluentes), inundações em alguns pontos da área, redução da navegabilidade e etc.